Em Araraquara, está cada vez mais mais difícil encontrar pediatra na rede pública de saúde

O número de médicos pediatras recém-formados nos últimos 10 anos teve uma queda de 30,8%, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). O índice se deve principalmente a menor remuneração na área, o que resultou na escassez de profissionais nos postos de saúde do país.

Segundo o levantamento da SBP, em 2001, os recém-formados na área eram 1.462. Já em 2011, o número chegou a 1.013.

O reflexo dessa realidade está nos postos de saúde. No Estado de São Paulo, existe um pediatra para 1.824 crianças e adolescentes, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a relação de um pediatra para mil crianças e adolescentes.

Sem pediatra

Na cidade de Rio Claro, a operadora de caixa Adriana de Gásperi procurou um pediatra para o filho de quatro anos. Ela foi a duas unidades de saúde e não conseguiu consulta. Ela ouviu a mesma resposta: “Não temos pediatra, só temos o plantonista que é um clínico geral e tem que aguardar a vez dele”, disse.

Ela teve que pagar uma consulta particular. “A gente ainda tem uma certa condição de ir lá e pagar uma consulta. E aqueles pais que não têm?”, questionou.

Por isso é tão difícil contratar um pediatra na rede pública. É o que acontece em Araraquara, onde apenas oito atendem nas 26 unidades da rede pública. “Como o número de pediatras é reduzido os mesmo dão plantão em todos os lugares, na rede pública e na rede privada, ai a gente vê a dificuldade em contratos. A gente supre alguns horários com médico generalista, geralmente os médicos que têm habilidade em progressão da família”, disse a pediatra e secretária de Saúde de Araraquara, Regina Barbieri.

Retorno financeiro

A tendência nos cursos de medicina está preocupando os profissionais da área. Na hora de decidir qual especialidade seguir, o que pesa mais na escolha do aluno é o retorno financeiro, fazendo com que a pediatria, a área em que se ganha menos, deixe de ser interessante para a maioria. “O pediatra é o único profissional médico que vive apenas da consulta. Ele não tem procedimento, ele não faz exames, não faz cirurgia. Então a grande maioria dos pediatras está fechando os seus consultórios e vivendo de plantão”, disse.





Em uma turma do quinto ano de medicina da Uniara, em Araraquara, dos 60 alunos, apenas dois querem seguir essa especialidade. “Não só eu como os outros professores, a gente tem tentado conversar bastante. Eles têm gostado do estágio, mas na primeira turma que se formou aqui apenas só três estão fazendo residência em pediatria”, disse o pediatra e professor Luiz Arnaldo Ferrari.

A estudante do quinto ano de medicina Beatriz Isihi vai seguir a área. “Eu acho gostoso lidar com crianças e está faltando profissionais bons e qualificados no mercado”, ressaltou.

Já o estudante Alexandre Kobayashi chegou a pensar em ser pediatra, mas desistiu porque financeiramente, não seria uma boa escolha. “Os procedimentos dão um retorno financeiro um pouco maior para o profissional da área da saúde e a pediatria fica um pouco restrita quando a gente fala de procedimento”, disse.

Valorização

Em São Carlos, a situação é bem parecida. Na primeira turma do curso de medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que é voltado para a saúde pública, apenas duas alunas fazem residência em pediatria. “Valoriza-se menos aquelas especialidades que têm um compromisso maior com a sociedade e talvez menor com o mercado. Se o sistema de saúde receber investimento e incentivo, tanto econômico, quanto de gestão e capacitação profissional, e de valorização no âmbito de políticas públicas para poder absorver adequadamente os profissionais, com certeza nós vamos reverter essa situação da pediatria e outras especialidades que vêm sendo desvalorizadas por uma política que prioriza a lógica do mercado”, afirmou o coordenador do curso de medicina da UFSCar, Bernardino Alves Souto.

Apesar disso, ainda existem médicos que querem trabalhar mais por idealismo do que pelo dinheiro. “A gente tem que pensar no gostar e no lado financeiro também, mas eu priorizo uma área específica que eu vou fazer de coração”, disse a aluna do quinto ano de medicina Camila Zanaon.

Fonte: G1





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